segunda-feira, 9 de abril de 2012

'Não sou Herói e não não sou ícone de nada', responde Senador Pedro Taques


"Eu não sou ícone de absolutamente nada. Eu não quero ser herói". A afirmação é do senador Pedro Taques (PDT), considerado um dos destaques no Congresso Nacional em seu primeiro ano de mandato.
Empunhando a bandeira do combate à corrupção desde a sua campanha eleitoral, ele se viu, recentemente, diante de uma situação curiosa: seu colega de Senado Demóstenes Torres, de Goiás, considerado um dos representantes da ética e moral - e que atuava ao seu lado em várias frentes -, foi flagrado em conversas pra lá de comprometedoras com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, atualmente preso por vários crimes.
Apesar da proximidade com o mais novo "inimigo público número 1" do país, Taques mantém o pulso: "Vejo isso com tristeza e alegria; alegria porque as instituições estão funcionando e o Senado vai ter que resolver isso", disse.
"O Demóstenes representou uma luta pela decência e pela ética, em um determinado momento. Isso é fato, tanto que foi reverenciado pela imprensa. Agora, eu não sou Bidu, Mãe Diná, Walter Mercado, professor King, para adivinhar o que as pessoas são, o que fazem no momento escuro das suas vidas", disse. Humilde nas palavras quando fala de sí próprio, Taques não considera que tenha uma "missão" no Senado.
"Eu tenho vontade de mudar alguma coisa. Porque a palavra convence as pessoas, mas o exemplo arrasta. Trazer pessoas para a política é importante. Tem gente que está cansado de partido político, mas quer militar numa causa", afirmou.

Numa conversa franca, em seu escritório em Cuiabá, entre um atendimento e outro, Taques recebeu o MidiaNews para falar de corrupção, eleições, redes sociais e futuro político.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
MidiaNews - Quando o senhor assumiu o mandato no Senado, houve uma nítida identificação com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), inclusive com uma atuação conjunta em várias frentes. Qual foi sua surpresa ao saber das denúncias sobre o envolvimento dele com o bicheiro Carlinhos Cachoeira?
Pedro Taques - Essa surpresa foi da sociedade brasileira. A imprensa o reverenciava como um dos melhores parlamentares do Brasil. Aqui em Mato Grosso, por onde eu andava, as pessoas perguntavam dele, elogiavam o trabalho dele. Houve sim, uma identificação de causas, na defesa da moralidade, na defesa da ética. Mas os fatos são graves, não dá para tapar o sol com a peneira. No campo judicial, ele tem direito a ampla defesa, o contraditório, o devido processo legal, a presunção de inocência. Mas no campo político, os fatos precisam ter uma consequência. O Senado tem que resolver isso, sem prejulgar, mas tem que resolver internamente. Eu soube dos fatos no dia 3 de março, fui a Brasília no dia 5, e eu e o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) conversamos com ele, pedimos explicações. No dia 20, os fatos começaram a se suceder. Aí fizemos uma representação ao presidente [José] Sarney (PMDB-AP) para que ele tomasse as providências e pedisse os documentos ao Supremo [Tribunal Federal]. Foi indeferido porque o ministro [Ricardo] Levandowski entendeu que não existia nenhum procedimento apuratório no Senado. Então eu fiz um discurso na segunda seguinte, e nesta semana cobrei da comissão de ética que investigasse. Eu não vejo como razoável você habilitar um telefone em Miami para conversar, intermediar negociações. Vejo tudo isso com um misto de tristeza e alegria. Tristeza porque foi um soldado de uma causa que tombou diante do crime organizado, da prática do ilícito. E com alegria porque as instituições estão funcionando – o Ministério Público, a Polícia, a Justiça. Imagine se um fato como esse ficasse escondido?
MidiaNews - Quando o senhor soube das denúncias, qual foi sua reação? Incredulidade?
Pedro Taques - Devido ao meu passado como membro do Ministério Público, eu sou cético com relação a algumas coisas. Analiso isso racionalmente. As instituições estão funcionando, e esse é o lado bom.
MidiaNews - O senhor defende a cassação do Demóstenes?
Pedro Taques - Eu defendo que ele se esclareça, que o devido processo legal se preencha, seja instalada a comissão, sorteado um relator. Existem elementos fortes nesse sentido, mas eu quero ver os documentos e analisar.
MidiaNews - Um senador que tinha uma atuação forte no combate à corrupção e uma postura ética como o Demostenes ser flagrado numa situação ilícita como essa não joga um manto de suspeita sobre o senado?
Pedro Taques - Joga. Mas se o Senado não tomar providência. Eu vejo que o todo é maior que a parte. Eu, como senador, sou insignificante. O mais importante é que a sociedade não conclua que todos são iguais, que só tem vagabundo na política. Eu não sou dono da verdade, não sou professor de Deus, já fiz coisas das quais não me orgulho. Mas tenho que defender a mesma coerência. Como eu fiz com o presidente do meu partido, quando ele era ministro. Não proteger os amigos e não prejudicar os inimigos. Mas não podemos apagar a nossa história. O Demóstenes representou uma luta em um determinado momento. Isso é fato, tanto que foi reverenciado pela imprensa. Eu não sou Bidu, Mãe Diná, Walter Mercado, professor King, para adivinhar o que as pessoas são, o que fazem no momento escuro da sua vida.
MidiaNews - Como o senhor avalia essa contradição entre o papel importante que ele exerceu com esse "lado escuro", revelado agora?
Pedro Taques - Nada na vida me surpreende mais. Eu passei por algumas coisas, que isso não me surpreende. Eu vejo que seja da natureza humana e nós precisamos zelar todos os dias, nos policiar para não cometermos erros como esse. Eu me policio todo dia na questão ética pessoal – procuro não furar fila, não atravessar faixa no momento errado. E quanto à corrupção institucional, busco todos os dias não me corromper.
MidiaNews - A tentação é grande numa Casa como o Senado?
Pedro Taques - Não só numa casa como o Senado. Eu sou um dos 81 senadores que existem no Brasil e exerço um poder político. Um cargo de senador abre portas, isso é fato. Mas todos os dias, consigo me policiar a respeito disso.
MidiaNews - Existe cura para o mal da corrupção? O senhor acredita que cheguaremos a um ponto em que a sociedade estará livre disso?
Pedro Taques - Eu sou otimista. Mas também sou realista. Eu vejo que a imprensa tem um papel muito importante nisso, em fiscalizar o senador todos os dias, investigar. Não interessa se é o Pedro Taques, Jayme Campos, Blairo Maggi, ou Demostenes Torres. É muito difícil você defender esta causa, porque todos dizem que você é igual. Hoje, quando você fala que é político, já entra perdendo, devendo. Eu senti isso quando minha filha, que tem 14 anos, no primeiro dia de aula lá em Brasília, disse na sua apresentação que o pai era político, e os colegas disseram ‘hummm’. Existe um ônus em ser político. Mas nós podemos viver sem política? Eu luto todos os dias, enquanto eu entender que é possível essa luta. Um dia desses, um cidadão publicou que faço parte de uma máfia dos combustíveis. Eu entendo que ele tem o direito constitucional de publicar isso. Entendo e defendo. Mas ele tem que responder judicialmente, porque eu não faço parte de máfia de combustíveis. Disseram que a minha esposa assinou um contrato de R$ 1 milhão com um sindicato. A minha esposa advoga desde antes de me conhecer. Ela não participa de mesa de dondocas, ela trabalha. Agora, eu posso arrumar um emprego dentro do meu gabinete para minha esposa? Não, porque é nepotismo. Eu posso pedir para alguém no Estado ou na União arrumar emprego para minha esposa? Não, que é clientelismo. Ela tem que ficar em casa sem trabalhar? Ela é uma profissional, ela tem que trabalhar. Quando eu resolvi entrar para a política, eu sabia disso. Eu poderia ter ficado em São Paulo, estava como procurador da República, dando aula, mas eu entendi que eu teria que pagar esse ônus, e estou pagando, porque faz parte do jogo democrático.
MidiaNews - É difícil perceber pessoas realmente compromissadas na política, com essa sua postura?
Pedro Taques - Eu não sou ícone de absolutamente nada, eu não quero ser herói. Eu encontro pessoas boas na política, sim. Mas com essa situação do Demóstenes, você há de convir que fica uma desconfiança sobre todos. Ninguém no Senado nem na Câmara caiu de Marte. Como existe senador e parlamentar que comete crimes, existe também médico, jornalista.
MidiaNews - O senhor, na condição de senador, já recebeu alguma insinuação, alguma proposta indecente?
Pedro Taques - Nunca recebi. Ninguém nunca chegou para mim e falou: você quer um cargo, ou emenda? Nunca. Eu acho que é porque as pessoas não confiam em mim, não se sentem seguras para falar isso. Eu nunca fui chamado no Palácio do Planalto para ver emendas.
MidiaNews - Nenhum amigo, nenhum empresário que tenha colaborado com sua campanha, pediu algum favor?
Pedro Taques - Sim, já pediram. Nada ilícito. As pessoas sabem que tudo eu faço por ofício, por documento. Se alguém vem aqui me pedir para fazer alguma coisa, tem que pôr no papel. Aí eu boto no meu site tudo o que eu fiz.
MidiaNews - Não será de se estranhar se, daqui a pouco, o Demóstenes voltar a ser eleito pela vontade popular. Na sua opinião, a população sabe votar?
Pedro Taques - Eu acho que isso está mudando. É lógico que não na velocidade que nós queremos, mas nesse caso do Demóstenes em particular, existem as redes sociais, é diferente do que ocorria em 2006. Porque os meios de comunicação interpessoal e as redes estão fazendo uma diferença muito grande. Você sabe quantos e-mails eu respondi este ano pelo site do Senado? Foram 770. E recebi mais de 5 ou 10 mil. E a imprensa tem que ficar em cima, como tem feito no caso do Demóstenes. Tem que fiscalizar todos os deputados, senadores, porque a população tem que saber o que nós estamos fazendo.
MidiaNews - Há então um efeito positivo nesses escândalos, com relação à postura do eleitor?
Pedro Taques - Muito. Eu acredito que a eleição de 2010 ficou no passado. Porque é tudo muito rápido. Eu estou no Senado falando, e logo já está em todo lugar. É impressionante isso.
MidiaNews - Mas ao invés de conscientização, esses escândalos não provocam um afastamento do eleitor?
Pedro Taques - Existe um desânimo. Eu sinto isso, e confesso que em determinados momentos, fico desanimado também. O que eu estou fazendo na política? Nós estamos aqui na véspera da Páscoa, eu podia estar com a minha família na Chapada, mas estou aqui desde as 6h30 da manhã, já dei uma entrevista, já tive uma reunião, e tem mais três reuniões montadas aí. Eu fico desanimado. Mas aí me animo porque vejo que não tem jeito. Você precisa, através da política, mudar. Se eu acreditar que a política não é mais uma forma de transformação, fico desanimado. Aí desisto e vou montar uma pousada na Chapada. Mas aí eu faço uma reunião como essa com os históricos do PDT, e é impressionante o ânimo que dá.
MidiaNews - Esse desânimo é constante, é diário?
Pedro Taques - Não, não. Em situações como essa, eu desanimo uns três ou quatro minutos. Quando estou sozinho, pensando comigo mesmo, às vezes bate esse desânimo.
MidiaNews - O senhor considera que tem uma missão como senador? Dar um exemplo bom, tentar atrair outras pessoas para a política...
Pedro Taques - Eu não vejo como uma missão. Eu vejo isso como uma vontade de mudar alguma coisa. Porque a palavra convence as pessoas, mas o exemplo arrasta. Trazer pessoas para a política é importante. Tem gente que está cansado de partido político, mas quer militar numa causa. No Brasil, hoje, temos 100 milhões de pessoas na classe média. Essas pessoas têm celular, tem internet, carro, e o que elas querem hoje é cobrar para que nós tenhamos educação, saúde, segurança. Esse movimento já ocorreu no mundo. Na Alemanha, depois da 2ª Guerra Mundial, nos Estados Unidos... Aí a sociedade deixa de acreditar em político sabonete. Acredita mais na meritocracia. Acredita mais em quem não fica só fazendo discurso. Esse é um movimento que não tem volta. E se os políticos não se aperceberem disso, eles estão na roça. Porque as eleições existem e as pessoas cobram. Ok, erram ao votar, mas isso está mudando. Este movimento social é significativo. Elas querem que o Estado funcione, e não atrapalhe.
MidiaNews - O senhor se considera privilegiado por ser senador num momento histórico, importante como esse?
Pedro Taques - Eu entendo que esse momento para o Brasil é muito importante. Existe muita corrupção, não temos como negar. Números revelam isso. Mas a sociedade está cobrando mais. E a imprensa tem o importante papel de fiscalizar. Tem que me fiscalizar o dia inteiro. É chato para mim, mas tem que ter.
MidiaNews - As mídias sociais são importantes para o seu exercício parlamentar?
Pedro Taques - Sim. Hoje eu tenho quase 13 mil seguidores no Twitter, penso que seja o maior número do Estado. Passou de 8 mil no Facebook. Uma publicação recente apontou que cada tweet meu é acompanhado por 175 mil pessoas. É bastante.
MidiaNews - Em pouco mais de um ano de mandato, o senhor se sente feliz? Satisfeito?
Pedro Taques - Eu sinto. Até este instante, estou muito satisfeito. Porque estou conseguindo saldar os compromissos políticos que assumi na campanha. Eu não assumi compromisso de ser um despachante do Orçamento da União. Eu critiquei isso. Mas tenho emendas parlamentares e o Plano Taques, que divide as emendas de acordo com o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] dos municípios. Eu já tenho uma lista dos municípios que serão contemplados até 2018. Vamos ver se dá certo. E tenho conseguido alguma coisa em Brasília. Mas o índice de execução das emendas é baixíssimo. Chega pouco dinheiro, e o que chega, nós temos que fiscalizar para que não seja roubado. Conseguimos colocar uma pessoa de Mato Grosso na comissão que vai rever o pacto federativo, o Fundo de Participação dos Estados [FPE], o que significa mais grana para Mato Grosso. Estou trabalhando para que a reunião dos presidentes do Mercosul seja em Mato Grosso, em dezembro, e o governador está ajudando nisso.
MidiaNews - E quanto ao trabalho de legislar?
Pedro Taques - Consegui apresentar projetos de leis que entendo que sejam importantes. Apresentei 31 propostas legislativas e 7 propostas de emendas à constituição. Algumas já foram aprovadas, estão caminhando. A comissão entrega o relatório do novo Código Penal no final de maio.
MidiaNews - Como o senhor se sente diante dessa máquina brutal que é o Executivo, que patrola quem não se enquadra às suas vontades?
Pedro Taques - Quando cheguei no Congresso, alguns me disseram "Pedro, se você votar com o governo, quando você for lá, eles vão puxar sua ficha e ver se você votou contra ou a favor". Mas eu não faço esse tipo de política. Nesse tempo de mandato, eu fui só quatro vezes a ministérios. E recebo convites dos ministros para ir. Mas eu vejo que essas visitas têm que ser institucionalizadas. Ele não pode liberar recursos para Mato Grosso porque eu sou mais bonito que o outro senador. Tem que ter um projeto decente. E se você buscar os meus votos, foram todos de acordo com a minha consciência, e a maioria foi contra o governo. Isso me dificulta lá? Não, eu fui muito bem tratado nas duas vezes que fui ao Palácio do Planalto. E não tenho essa inserção política. Eles me conhecem, mas eu não vou participar desse jogo que alguns dizem que existem.
MidiaNews - Como o senhor analisa a postura da presidente Dilma com relação à corrupção?
Pedro Taques - Eu vejo que essa faxina que ela fala que está fazendo, ela fez em parte. O chamado presidencialismo de coalisão para a governabilidade tem que ser repensado. Por isso defendo que o PDT não tenha ministério, que apoie a presidente sem ministério. Já defendi isso no plenário do Senado. Defendo que possamos ajudar a presidente no que interessa ao Brasil e votar contra o que não interessa. Por isso votei favorável a todas as CPIs e todos os requerimentos de presença de autoridades lá. A presidente está fazendo um bom trabalho, está me impressionando positivamente. Mas o que falta ao Brasil é um projeto estratégico de país. É pensar o país independentemente do PT-Lula e PSDB-Fernando Henrique. O país é muito maior que essa dicotomia entre esses dois partidos. São importantes, sim, mas precisamos pensar em projeto estratégico para o Brasil daqui a 20 ou 30 anos. Nós ficamos apagando fogo. E como a oposição é muito pequena, falta esse pensamento de contraposição.
MidiaNews - O senhor acha que a oposição tem feito um trabalho só de atacar, ou realmente está ajudando de forma crítica?
Pedro Taques - Falta à oposição mostrar caminho, e não ficar só reclamando. Agora a oposição está baleada [com a escândalo envolvendo Demóstentes Torres]... mas tem o PSDB lá, e precisa aparecer mais. Eu não sou da oposição, mas esses dias eu fiz uma crítica à AGU [Advocacia Geral da União], ao ministro do Planejamento. E eles sabem que eu faço essa crítica porque o meu eleitor é crítico, ele me elegeu para isso. E eu tenho que saldar esse compromisso político.
MidiaNews - Na opinião do senhor, a corrupção ainda é constante na política mato-grossense?
Pedro Taques - Eu não digo que impera, mas nós temos grandes escândalos aí que precisam ser investigados. Ninguém ouviu mais falar dos maquinários. Das cartas de crédito, precatórios, Land Rover. Escândalos na educação, na saúde. Eu acho que nós precisamos cobrar mais. E eu ajudo o Estado lá em Brasília. Eu disse ao governador que estou lá trabalhando por Mato Grosso, estou pronto para ajudar. No Código Florestal, eu, o senador [Blairo] Maggi (PR) e Jayme [Campos] (DEM) votamos pela defesa dos interesses do Estado.
MidiaNews – Como o senhor avalia o governo Silval Barbosa (PMDB)?
Pedro Taques - O governo precisa trabalhar mais. O que o governo está fazendo? Eu preciso saber isso. Melhorou os índices educacionais? Eu não sei. Minimizou os problemas da saúde? Você viu avanços em segurança? Não viu. Eu não vi. O Silval é governador há dois anos. E está no governo há cinco anos. Eu vejo que a Copa do Mundo seja importantíssima para o Estado, defendo a realização da Copa aqui, acho que é um momento histórico dos mais importantes. Mas Mato Grosso não se resume à Copa do Mundo. As coisas precisam funcionar, e não estão funcionando bem, a meu ver.
MidiaNews - Como o senhor classifica o atual governo?
Pedro Taques - Com respeito ao Silval, porque entendo que ele tenha boa intenção, mas me parece um governo de final de mandato. Parece desgastado, em função da própria composição partidária para sua eleição. O governador precisa governar, e governar importa em tomar decisões, fazer opções.
MidiaNews - Na sua opinião, isso não está sendo feito?
Pedro Taques - Falta concretizar isso. Eu respeito o governador e não quero "fulanizar" o debate. Na questão da Copa, por exemplo, eu sugeri que nós fizéssemos uma reunião com os pré-candidatos a prefeito de Cuiabá e Várzea Grande, porque isso não é uma questão partidária. Não interessa quem será o futuro prefeito, as pessoas precisam entender que essa questão é mais importante, é uma questão estratégica. Eu não sou do campo político do Dorileo Leal (PMDB), do Guilherme Maluf (PSDB), mas eu não sou inimigo deles. E entendo que o Estado tem que ser pensado dessa forma. Como os prefeitos de Cuiabá e Várzea Grande não discutem a Copa?
MidiaNews - Quanto ao déficit de cerca de R$ 1 bilhão do Estado, o senhor tem alguma suspeita? Esse rombo estaria relacionado aos escândalos do Estado?
Pedro Taques - Eu não sou leviano de afirmar isso. Mas digo a você que estou estudando. Pedi um relatório à consultoria do Senado sobre a dívida do Estado. Pedi informações ao Tribunal de Contas do Estado. Eu analiso os números da Secretaria de Planejamento. Estou estudando para que eu possa me posicionar a respeito disso. Eu já tenho algumas ideias, não conclusões. E vou verbalizar no momento correto.
MidiaNews - Como senador, o que o senhor pode fazer em relação a esses casos?
Pedro Taques - Um senado não manda no Ministério Público, que é independente, não manda na polícia, que tem autonomia, mas eu tenho cobrado. Enviei ofícios perguntando sobre isso. Um senador fiscaliza e cobra, como a imprensa faz.
MidiaNews - Qual sua avaliação do governo Chico Galindo (PTB) na prefeitura de Cuiabá?
Pedro Taques - Ele pegou um governo no meio do caminho e está tapando buracos.
MidiaNews - E está conseguindo tapar?
Pedro Taques - Eu entendo que sim. Tem aí o programa Poeira Zero, a cidade está melhorando. É pouco tempo, né.
MidiaNews - São dois anos...
Pedro Taques - Ah, mas Cuiabá é uma cidade que em dois anos você não resolve os problemas de saúde, saneamento, educação, mobilidade.
MidiaNews - Está sendo um governo bom?
Pedro Taques - Eu entendo que muito ainda pode ser feito.MidiaNews - Entrando no assunto das eleições municipais desse ano, a participação do senhor é considerada importante no processo eleitoral. O que está definido em relação a Cuiabá?

Pedro Taques - Eu, Pedro Taques, tenho um compromisso político com o Mauro Mendes (PSB). Ele foi um companheiro leal na eleição. A política adora traição, mas não gosta de traidores. Eu defendo que o Mauro seja candidato ao governo em 2014, e já disse isso para ele. Mas eu só posso apoiá-lo no momento que ele decidir ser candidato. O tempo é dele. Não posso pressioná-lo a decidir, não é do meu feitio, e nem ele é homem para cair sob pressão. O PDT está trabalhando no município, nós temos bons quadros como o Kamil Fares para prefeito, e o PDT vai se reunir e decidir. Eu sou amigo do Guilherme Maluf (PSDB), tenho uma boa relação com o Lúdio [Cabral] (PT), tenho uma boa relação com o Chico Galindo (PTB). Eu entendo que são pessoas que merecem ser ouvidas neste processo.
MidiaNews - Por que defender candidatura do Mauro para governador em 2014?
Pedro Taques - Ele precisa decidir se quer ser candidato a prefeito. Entendo que o Mauro foi candidato ao governo em 2010 e não fomos ao segundo turno por 7 mil votos. E ele é um bom administrador.
MidiaNews - Ele faria um trabalho melhor no governo do Estado?
Pedro Taques - Não sei, existem outras pessoas quem podem administrar Mato Grosso. Mas o Mauro é um quadro que não pode ficar fora da política.
MidiaNews - Mas a candidatura dele nesse momento é natural...
Pedro Taques - Sim, as pesquisas mostram isso e ele já manifestou interesse em ser candidato à prefeitura de Cuiabá. Ele está analisando o quadro.
MidiaNews - E ele terá o seu apoio?
Pedro Taques - O meu apoio, do Pedro Taques, sim. Mas eu não mando no PDT. Nós precisamos ter reuniões institucionais com o PDT, o PSB...
MidiaNews - Se ele for candidato a prefeito, e for eleito, muda esse apoio em 2014?
Pedro Taques - O próprio Mauro disse que a possibilidade de ele ser eleito prefeito e se candidatar em 2014 é zero. Cuiabá merece isso. Ele tem consciência disso.
MidiaNews - Se o Mauro Mendes for eleito prefeito, o seu nome naturalmente será um nome forte para governador. É uma possibilidade?
Pedro Taques - Eu vejo que 2014 está muito longe. Mas é fato, as pessoas me perguntam isso e não posso fugir. É natural que um senador, no meio do mandato, possa disputar o governo do Estado. Eu tenho mais de 30 anos, sou filiado a um partido político, não sou ficha-suja, tenho uma militância, já mostrei que tenho voto no Estado. Mas digo para você com total honestidade: hoje eu não tenho isso como projeto. Mas eu não posso fugir do meu destino.
MidiaNews - O senhor se vê no Executivo?
Pedro Taques - Não, não me vejo. Estou focado no que estou fazendo. E confesso que estou sentindo temores de alguns setores quanto a eu ser candidato. Porque eu posso quebrar paradigmas, romper algumas coisas nesse Estado.
MidiaNews - Esses temores de segmentos não lhe causam nenhum tipo de constrangimento?
Pedro Taques - Não, não. Meu projeto hoje é ser um bom senador, cumprir os compromissos, representar bem o povo de Mato Grosso, fazer uma formação partidária. Estou gostando de fazer partido, fizemos diretórios em 131 municípios.
MidiaNews - Que setores seriam esses?
Pedro Taques - Não são setores localizados. É que as pessoas me param... eu não tenho grupo. Eu entendo que uma coalisão não pode ser formada por coisas diferentes, tem que ter uma uniformidade de causa. Eu não sou político tradicional, embora eu já tenha ouvido falar isso.
MidiaNews - Que paradigmas ou vícios precisam ser quebrados?
Pedro Taques - Não são paradigmas que precisam ser quebrados. Precisamos pensar num projeto estratégico para Mato Grosso. Que Mato Grosso queremos num terceiro momento do Estado? O primeiro momento foi o extrativismo, o segundo foi o forte setor produtivo, commodities, o terceiro deve ser a industrialização. Teremos a BR-163, a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste. Precisa preparar o povo da nossa terra para esse terceiro momento. Independente de estar na política, ser candidato ou não, quero colaborar com isso.
MidiaNews - Pelo menos o senhor admite, na hora certa, analisar a possibilidade?
Pedro Taques - Eu não trabalho sob hipóteses. Não sei se estarei vivo amanhã. Esse é um ponto.
E gostaria de encerrar cumprimentando Cuiabá pelo aniversário. Eu amo essa cidade. Nasci no Hospital Santa Helena, já saí daqui duas vezes e voltei. Aqui eu nasci, aqui eu vivi, aqui eu quero morrer. Cuiabá me deu 213 mil votos. É voto que não acaba mais, então eu tenho uma responsabilidade muito grande com essa cidade.

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